13 Segundos
- Bruno César Vieira
- 12 de jul. de 2013
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de fev.
— Próxima estação: Sé. Desembarque pelo lado esquerdo do trem — anunciou o maquinista.
O metrô se aproximava da plataforma onde a garota desceria. Pela velocidade do trem e a metragem média das plataformas das estações de São Paulo, o jovem calculou aproximadamente treze segundos até o trem parar, abrir a porta, ela sair, a porta fechar e ele seguir viagem sozinho.
Também dava tempo de segurar o braço dela e beijá-la.
13...
Eles se conheceram no próprio bar onde estavam bebendo. Um amigo em comum os apresentou e, com afinidade imediata, começaram a conversar por horas, até que ela olhou assustada para o relógio de pulso dourado, tipo Casio, e disse que precisava ir embora, senão acabaria dormindo na rua.
12...
Ele não se preocupava muito com o horário do metrô. Pelo menos não desde que se mudara para uma kitnet no centro velho de São Paulo, perto da Praça da Luz, no coração do Bom Retiro.
Dali, ele podia ir andando para qualquer canto da cidade.
11...
Naquela quarta-feira, enquanto um clássico do futebol paulista passava na TV (seu time jogava, aliás), um de seus melhores amigos comemorava mais um aniversário.
As piadas e trocadilhos sobre seus recém-completados 24 anos rolavam soltas no minúsculo bar do Paraíso, a poucos metros do Shopping Paulista.
10...
Aliás, ele nem sabia se aquele ponto realmente pertencia ao bairro do Paraíso. Aquela região era uma confusão de nomes e fronteiras: ruas com nomes de países, bairros que se misturavam... Mas isso não importava agora.
9...
A única coisa que importava era ela.
Apenas.
8...
Mesmo com a quantidade torrencial de cerveja que ambos tomaram, ele prestou atenção em tudo que ela disse.
Ela viera de alguma cidade do interior, por algum motivo importante. Morava em São Paulo havia um tempo considerável, com algumas pessoas, perto de alguma estação de uma linha qualquer do metrô.
7...
E ela era solteira.
6...
A porta do metrô se abriu, mas ela não se mexeu muito. Nem parecia que aquela era a estação em que precisava descer. Ele ficou parado, olhando para ela.
Mesmo que aquele fosse o último metrô, ele poderia descer ali e seguir andando até sua casa. O problema talvez fosse ela, já que ainda precisaria fazer baldeação para outra linha.
Mas se o beijo acontecesse naquele momento, nada impediria que ela passasse a noite em sua casa.
E o cenário só melhorava.
5...
Ela também estava afim.
Sentia o cheiro dos feromônios no ar. Bastava puxá-la para comemorar o gol.
Aliás, será que teve mais algum gol?
Em outras circunstâncias, ele ficaria na festa até todos irem embora. Mas naquela noite, depois de toda a boa conversa com ela, quando ela anunciou que precisava ir, ele prontamente se ofereceu para acompanhá-la — e, de bom grado, ela aceitou. Agora, ali estavam, se encarando.
4...
O vagão não estava cheio.
Na extremidade sul, onde estavam, ele podia ver um casal de garotas se beijando ardorosamente do outro lado. Um jovem inconsciente de bebida dormia mais ao centro do trem. Perto dos dois, um senhor de boné velho — daqueles distribuídos em eleição — segurava um celular sintonizado no jogo.
3...
Ele começou a lembrar de toda a conversa no bar e das inúmeras vezes em que poderia tê-la beijado — mas não fez nada.
A conversa era boa e fluía tão naturalmente que, às vezes, ele se pegava viajando, divagando sobre o que ela dizia e sobre o que poderia responder. Perdido em seu próprio mundo.
2...
Ela era muito comunicativa.
Enquanto ela pertencia às humanas, ele era das exatas, e seus pensamentos voavam rápidos, lógicos e certeiros.
Como sempre, muito bom na teoria.
Sabia detalhes como a velocidade do metrô e a metragem das plataformas por causa de um trabalho de faculdade que precisou apresentar sobre reformas e melhorias públicas.
Trabalho esse cuja nota ele ainda não sabia.
O metrô apitou, avisando que as portas estavam prestes a fechar.
Ela saiu do vagão e se aproximou do rosto dele. Ele fez o mesmo.
1...
— GOL! — gritou o senhor que escutava o jogo.
Não sabia que time havia marcado.
Não importava. Não agora.
0.
Ele a foi beijar a bochecha.
Ela virou os lábios.
Ficaram se olhando enquanto a porta começava a fechar. Ele a observou pelo vidro enquanto o trem voltava a se movimentar.
Viu-a se afastar sorrindo, descendo pela escada rolante.
A próxima estação já era a dele. Mas ele não estava pensando nisso.
Permaneceu ali parado, ouvindo o estalo daquele estalinho. Só aí ele sorriu.