Malboro Branco
- Bruno César Vieira
- 27 de abr. de 2017
- 1 min de leitura
Atualizado: 19 de fev.
Uma mulher branca estava na passagem, entre a estufa de salgados e o caixa de uma padaria chique.
Com o objetivo de comprar meu cigarro, fui caminhando pela passagem, obstruída pela senhora que carregava uma grande bolsa ostentando orgulhosamente as insignias da DG. Ao perceber que ela não se movia, pedi licença. Ela permaneceu imóvel, como se não tivesse me ouvido. Com a voz firme e um leve toque em suas costas, pedi licença novamente. Nada aconteceu. Irritado, atravessei a estreita passagem, derrubando a bolsa de seus ombros.
Troca de olhares faiscante. Mal-educados por mal-educados, decidi não prolongar a confrontação.
Já na fila, ela se posicionou atrás de mim, reclamando que tinha chegado primeiro e que alguém estava cortando fila. Não se referia aos advogados à minha frente, é claro, mas ninguém parecia se importar—nem com ela, nem comigo—, e logo se calou.
Ao sair da padaria, desembrulhei o maço com calma, observando a leve garoa que caía. A mulher apareceu ao meu lado, igualmente perplexa com a chuva. Acendi um cigarro e, calculadamente, baforei a fumaça em sua direção.
Continuei caminhando sob a chuva fina, enquanto a ouvia murmurar: "Abusado".
Em momento nenhum ela disse os motivos de se indispor comigo... mas naquele silêncio indisposto, a gente sabia o porquê...